segunda-feira, 17 de junho de 2019

Especial Entrevistas: SiFu Marcos de Abreu

Para dar prosseguimento ás postagens deste blog, iremos selecionar as melhores entrevistas do Blog do Dido e reproduzi-las aqui. Esta entrevista de meados de 2010 foi uma das recordistas de audiência e espero, que gostem.



Especial Entrevistas: SiFu Marcos de Abreu
                   Special Interviews: SiFu Marcos de Abreu


Dando prosseguimento aos posts especiais de "Entrevistas" com os mais renomados mestres do Wing Chun no Brasil.
E é com imensa honra que o blog do Dido entrevistou este mês,um dos nomes mais conceituados do Wing Chun nacional, o Sifu Marcos Wendell Sales de Abreu,mais conhecido no meio marcial simplesmente como Marcos de Abreu.

Continuing to special posts of "interviews" with the most renowned masters of Wing Chun in Brazil.

And it is with great honor that Dido's blog interview this month, one of the most respected names in Wing Chun national, Sifu Marcos Wendell Sales de Abreu, better known in martial means simply as Marcos de Abreu.






Sifu Marcos de Abreu é paulistano, Prof. de Educação Física e Mestre da 9ª geração do Wing Chun Kuen, arte marcial chinesa popularizada graças ao superstar Bruce Lee. Foi o primeiro entre os professores brasileiros a concluir todas as fases de treinamento formal com Mestre Li Hon Ki, introdutor oficial desta luta na América do Sul, de quem foi estudante "às portas fechadas" (Closed Door Student), termo que em chinês que designa aqueles que receberam o ensinamento privativamente no mais alto grau. 

Sua experiência inclui lutas em campeonatos, treinamento na China com a sétima geração e atual Patriarca do clã, Mestre Duncan Leung, e outros mestres da oitava geração. 

É autor do livro KUNG FU WING CHUN, sucesso de vendas no Brasil, Portugal e Espanha pela Editora Escala, além de escrever regularmente na internet sobre o tema. Foi pioneiro por ser o primeiro mestre com formação autentica a criticar abertamente na mídia e em seu primeiro livro o ufanismo da luta. Criticou ainda o messianismo da figura do mestre a alienação dos praticantes, o charlatanismo e a compra e venda de certificados e títulos internacionais, defendendo a evolução técnica profissional e convidando as pessoas a repensarem esta arte marcial deixando o discurso de lado para analisar friamente a técnica e seus objetivos originais.
Mantém seu Mo Koon (ginásio marcial) na terceira maior cidade do país, Salvador, ministrando aulas regulares e particulares, além de formar instrutores de nível internacional pela Associação Applied Wing Chun Brazil, da qual é um dos seus membros fundadores junto a seus irmaos kung fu, Mestres Marcelo Florentino, Claudio Rangel e Alberto França.Nesta entrevista,sifu Marcos fala sem papas na língua sobre sua visão da arte marcial hoje no Brasil e não foge á temas controversos,sempre pontuando suas respostas com total "diretismo" e uma sinceridade raramente vista nos ias de hoje.


Sifu 'Marcos de Abreu' born in São Paulo, Prof. of Physical Education and Master of the 9th generation of Wing Chun Kuen, Chinese martial art popularized thanks to superstar Bruce Lee. He was the first among Brazilian teachers to complete all phases of formal training with Master Li Hon Ki, official introducer of this struggle in America South, who was a student "behind closed doors" (Closed Door Student), a term in Chinese designating those who received the teaching privately in the highest degree.

His experience includes fights in tournaments, training in China with the seventh generation and current clan patriarch, Master Duncan Leung, and other masters of the eighth generation.

He is the author of KUNG FU WING CHUN, top seller in Brazil, Portugal and Spain by Editora Escala, in addition to writing regularly on the Internet about the subject. It was a pioneer for being the first master with training authenticates to criticize openly in the media and in his first book the jingoism of the fight. Also criticized the messianic figure of the master disposal of practitioners, quackery and the purchase and sale of certificates and international titles, defending the professional technical evolution and inviting people to rethink this martial art leaving the next pitch to coldly analyze the technical and its original goals.

Keeps your Mo Koon (martial gym) in the third largest city, Salvador, giving regular and private tutoring, and train world-class instructors by the Association Applied Wing Chun Brazil, which is one of its founding members along with his brothers kung fu, Masters Marcelo Florentino, Claudio Alberto Rangel and França.Nesta interview, sifu Marcos speaks outspoken about his vision of the martial art in Brazil today and will not escape controversial issues, always punctuating his answers with full realism and sincerity rarely seen we'd today ..



Blog do Dido - Na sua visão,qual é a maior diferença entre o wing chun praticado no Brasil de hoje,pro brasil de 10,15 anos atrás? Quais foram as principais mudanças e o porque de suas mudanças?
Sifu Marcos - Antes não havia uma noção de “Família Wing Chun”, isto é, as questões sociais, éticas e filosóficas que vêm junto ao treinamento, as pessoas queriam mesmo era aprender a técnica do Jeet Kune Do por causa da figura do Bruce Lee e seus filmes, e na falta disso o Wing Chun era a opção mais viável. Havia no Brasil alguns chineses e outros poucos brasileiros que haviam treinado determinados conteúdos do sistema e os transmitiam a uns poucos interessados, de forma fechada, geralmente caríssima e o aluno não tinha qualquer garantia de que aquilo que aprendia tinha qualquer procedência, pois na época não havia internet, então a possibilidade de checar informações era limitada. Mestre Marco Natali, grande escritor de artes marciais e pioneiro na difusão da luta no Brasil, por exemplo, jamais completou o sistema, fato admitido por ele mesmo em entrevista na comunidade Orkut Wing Chun Kung Fu.
Já neste período dos últimos 15 anos de que fala alguns brasileiros já estavam fazendo intercâmbio no estrangeiro visando melhorar tecnicamente ou simplesmente trazer um Wing Chun mais tradicional, isto é participar ativamente de uma organização ou família. Isto porque com a internet as pessoas começaram a ter mais acesso a informação sobre escolas e o que havia no panorama internacional sobre a arte. Outros mestres aportaram aqui, convidados ou não por brasileiros e começaram seus trabalhos. A coisa começou a evoluir, embora cada organização tenha objetivos e métodos de trabalho diferentes entre si, quando não díspares, mas acho essa variedade positiva, isso dá mais opções ao público interessado. O problema é que os profissionais vendem muitas vezes mais uma fantasia que a técnica junto com a arte: às vezes cultura chinesa, às vezes fantasias históricas sobre monges super habilidosos, ou o pior de tudo, a defesa pessoal perfeita que resolve tudo. Isso pode colocar indivíduos despreparados técnica e psicologicamente em perigo iminente e isto é simplesmente uma molecagem irresponsável. Tenho visto isso, uma espécie de discurso prosetista e ufanista, em algumas escolas. Ouvi verdadeiros absurdos numa academia de Krav Maga outro dia, e olha que eu conheço muita gente boa nesta arte marcial, que se parece muito com o Wing Chun que é mais antigo. Se você pensar que existem professores sendo formados em demasia ensinando "defesa pessoal" mas que provavelmente não existem nem duas dúzias de mestres de Wing Chun no Brasil, você começa a ficar preocupado...
Blog do Dido - O sr. lançou um livro (Kung Fu Wing Chun) de bastante sucesso no meio marcial nacional e agora já está escrevendo o próximo.Quais são as maiores dificuldades no processo de produção e pesquisa deste que é um dos mais ousados projetos referentes ao wing chun?O que o sr. considera mais importante no fator Motivação na decisão de escrever sobre wing chun?
   
Blog Dido - In your view, what is the biggest difference between the wing chun practiced in Brazil today, to the wing chun it was practiced in Brazil 10.15 years ago? What were the main changes and because of your changes?

Sifu  Marcos - Before there was not a notion of "Family Wing Chun," that is, the social, ethical and philosophical questions that come along to training, people really wanted was to learn the technique of Jeet Kune Do because of figure of Bruce Lee and his films, and failing that Wing Chun was the most viable option. Brazil had some Chinese and a few Brazilians who had trained certain system content and transmitted to a few interested, closed form, usually very expensive and the student had no guarantee that what we learned had any source, because at that time no had internet, then the possibility to check information was limited. Master Marco Natali, great writer and martial arts pioneer in spreading the struggle in Brazil, for example, never completed the system, a fact admitted by himself in an interview on Orkut Wing Chun Kung Fu community.
Already in this period the last 15 years that they speaks, some Brazilians were already making exchanges abroad aimed at technical improvements or simply bring a more traditional Wing Chun, that is actively participating in an organization or family. This is because with the internet people started to have more access to information about schools and what was in the international panorama of art. Other masters landed here, guests or not by Brazilian and started their work. It started to evolve, although each organization has different goals and working methods of each other when not mixed but I think this positive variety, it gives more options to the interested public. The problem is that professionals often sell more a fantasy that the technique along with the art: sometimes Chinese culture, sometimes historical fantasies about super skilled monks, or worst of all, the perfect self defense that solves everything. This can put individuals and psychologically unprepared technique in imminent danger and this is simply an irresponsible prank. I've seen it, a kind of prosetista and vainglorious speech, in some schools. I heard a true absurd Academy Krav Maga other day, and I've know many good people in this martial art, which looks a lot like the Wing Chun which is earliest. If you think that there are too many teachers being trained in teaching "self-defense" but that probably do not exist two dozen Wing Chun masters in Brazil, I begin to get worried ...


Blog Dido - SiFu, You released a book (Kung Fu Wing Chun) quite successful in the national martial community and now is already writing the next book.What is the biggest difficulties in production and research process that this is one of the boldest projects for the Wing Chun What Mr. considers most important motivation factor in the decision to write about wing chun?

(Capa da Obra escrita por Sifu Marcos; Wing Chun Kung Fu; A arte marcial treinada por Bruce Lee)
SM - Caso eu tivesse de escrever na época do Marco Natali eu teria de comprar material importado, encontrar um praticante autêntico que estivesse no país ou viajar ao exterior para obter informações. Com a internet posso, no exato momento em que dou esta entrevista, checar qualquer informação sobre qualquer ramificação do sistema disponível na rede. Por incrível que pareça não tive dificuldades sobre informação, pois além da internet eu tinha minha própria bagagem de 10 anos como aluno privativo de um Mestre que pertence genuinamente à família Wing Chun, de forma que tenho informações que a maior parte das pessoas desconhece. A dificuldade era justamente escrever para o público leigo. Eu tive nas minhas mãos a chance de mudar aquela propaganda de “melhor estilo de kung fu”, “mais isso, mais aquilo”. Isso queimou e queima a gente o meio marcial.
Eu caí meio que de pára-quedas naquele projeto. O projeto do livro estava emperrado pelas dificuldades do Sifu Alberto França Gomes em enviar material a tempo para o fechamento do mesmo, pois ele tinha apenas enviado parte das fotos, e elas só abordavam o Sil Lin Tao (primeira fase da luta). Assim, o escritor José Augusto Maciel Torres convidou-me a escrever o texto. Eu relutei bastante, porque eu sempre quis fazer algo mais autoral porque tenho uma visão de Wing Chun diferente da que se propaga hoje. O Augusto é amigo do Natali e eu, apesar de fã do Natali como escritor não concordo com a visão de Wing Chun dele e já o criticava na internet, embora sem desrespeitá-lo. Mas o José Augusto veio com um argumento muito forte: “Nós teremos 120 mil cópias em três países. Apesar de ser um dos principais alunos de Li Hon Ki, você é um ilustre desconhecido e, pior, reside no nordeste, e você sabe que as pessoas têm preconceito. Você quer começar a fazer a história do Wing Chun no país ou quer deixar isso para outra pessoa? Você acha que existe realeza no Wing Chun? Todos esses caras são uns filhos da p...”, ele disse. Não tem muita frescura, diz o que pensa, eu também sou assim então escrevi o texto e fiz metade das fotos com meus próprios alunos. Mas eu não apareço nelas. Eu não gosto de tirar fotos.
A motivação que tenho é saber que tive e tenho a chance de realmente mostrar para as pessoas o que é Wing Chun, como funciona, deixando para trás aquele discurso sobre uma luta que resolve tudo em segundos. Meu próximo projeto será totalmente autoral e isso me deixa muito animado. Vou explorar aspectos do Wing Chun totalmente desconhecidos no Brasil e tornar outros mais acessíveis aqueles que já praticam.
Blog do Dido - O sr. não teme que pessoas de má índole ao comprarem seus livros já saiam se auto-intitulando mestres de wing chun e passem  a usar o nome da arte marcial chinesa em beneficio próprio,coisa que o sr. bem sabe,no Brasil,é quase que uma "tradição" haver picaretas em todos os estados e capitais?
SM - Não. A internet tem sido mais usada nisso. Livro não ensina ninguém a lutar. A função do livro é fazer o cara se identificar ou não com aquilo, usando para isso informações honestas que dêem dados ao leitor para fazer seu julgamento da melhor forma possível. Picaretas hoje por incrível que pareça compram certificados no exterior vendidos por instituições em tese acima de qualquer suspeita. O cara passa dez anos treinando uma porcaria, ouvindo coisas como “este golpe mata”, etc. e quando precisa usar a arte ela fica lhe devendo. Felizmente todas as vezes que meus alunos precisaram usar Wing Chun para defesa, recebi um telefonema deles me agradecendo pelas lições. Isso sim me dá orgulho do que faço. Mas Wing Chun também não é só isso, porque pode passar toda a vida sem ter de usar a arte. Então, meus alunos e ex-alunos, alguns irmãos de arte que estudaram com Li Hon Ki, todos participam da minha vida e eu da deles, e no fim das contas isso é a única coisa que a gente leva, as amizades que fazemos, nossos laços fraternos.

SM - If I had to write at the time of Marco Natali I would have to buy imported material, to find an authentic practitioner who was in the country or travel abroad for information. With the internet can, just when I give this interview, check any information about any branch available on the network system. Amazingly I had no trouble on information, because besides the internet I had my own baggage of 10 years as a private student of a teacher who genuinely belongs to the Wing Chun family, so I have information that most people are unaware. The difficulty was just writing for the lay public. I had in my hands a chance to change that advertise "best kung fu style", "more so over that." It burned and burned us through martial.
I fell kind of parachute in that project. The book project was stalled by difficulties of Sifu Alberto Gomes França in sending the material time for closing the same as it was only sent of the photos, and they only addressed the Sil Lin Tao (first phase of the fight). Thus, the writer José Augusto Maciel Torres invited me to write the text. I was reluctant enough, because I always wanted to do something more copyright because I have a Wing Chun that was different from that spreads today. Augusto is a friend of Natali and I, although Natali fan as a writer do not agree with his Wing Chun vision and have already criticized the Internet, although not disrespect him. But José Augusto came with a very strong argument: "We will have 120,000 copies in three countries. Despite being one of the main students of Li Hon Ki, you are a stranger and worse illustrious, lies in the northeast, and you know that people are prejudiced. Do you want to start making the history of Wing Chun in the country or want to leave that to someone else? Do you think there is royalty in Wing Chun? All these guys are a son of a b ... "he said. Not much freshness, says what he thinks, I am also so then wrote the text and made half the shots with my own students. But we do not appear in them. I do not like taking pictures.
The motivation I have is knowing that I had and have a chance to really show people what is Wing Chun, how it works, leaving behind that speech about a fight that solves everything in seconds. My next project will be fully authorial and that makes me very excited. I will explore totally unknown aspects of Wing Chun in Brazil and make others more accessible those already practicing.

Blog Dido - Mr. no worries that bad people to buy their books have come out self-titling masters of Wing Chun and start to use the Chinese martial art name for their own benefit, something that Mr. well known in Brazil is almost a "tradition" have picks in all states and capitals?

SM -. No. The internet has been more used it. Book does not teach anyone to fight. The book's function is to make the guy you are or not with it, using it for honest information to give data to the reader to make his judgment in the best possible way. Picks today believe it or buy certificates sold by overseas institutions in theory above suspicion. The guy spends ten years training sucks, hearing things like "this hit kills", etc. and when she needs to use the art is you should. Fortunately every time my students had to use Wing Chun for defense, got a call from them thanking me for the lessons. That's what makes me proud of what I do. But Wing Chun is not only that, because you can spend a lifetime without having to use art. So, my students and alumni, some brothers of art that studied with Li Hon Ki, all part of my life and I of them, and in the end this is the only thing we take, the friendships we make, our fraternal bonds.

(Sifu Marcos e Sitaaigung Duncan Leung)
(SiFu with Sitaaigung Duncan Leung)
Blog do Dido - Um assunto bem polêmico diz respeito á falta de lutadores de wing chun em campeonatos como ufc ou mma.Ao que o sr. atribui essa "falta"?Seria realmente necessário haver algum representante do wing chun,seja nacional ou internacional em torneios deste tipo?
SM - Só é polêmico porque as pessoas não conhecem a arte e como ela funciona. Se soubessem, isso não seria uma grande preocupação. Originalmente o Wing Chun é uma luta de contra-ataque. O cara fica lá com uma guarda que é quase um prece de monge budista e quando é atacado reage fulminantemente. É muito parecido com aquilo que chamamos hoje – não gosto muito do termo – defesa pessoal. Então, o soco, os golpes, tudo é voltado para um tipo de ambiente de combate diferente do de competição onde a luta é um espetáculo de agressão que necessitava de dois caras indo para cima um do outro. No ambiente de combate irrestrito, você usa uma mesma defesa de Wing Chun para desarmar um cara de porrete, para defender um soco cruzado ou um chute. Os movimentos são ambivalentes e são ajustados de acordo com o calor do momento. Isto torna difícil um nível de especialização para uma competição de lutas específicas para ringue em alto nível.
Quando estive na China, passei por um treinamento que visava adaptar-nos à luta de ringue. Sigung Duncan Leung (mestre de Li Hon Ki) faz isso desde os anos setenta. Hoje, muitos lutadores de nossa escola entram nas competições, mas o fazem praticamente por conta própria, porque todos tem a convicção de que Wing Chun é para o que eles chamam em inglês de “real fights” e eu tive a sorte de conhecer pessoas experts neste tipo de luta, como o próprio Duncan, e dois de seus principais discípulos, Stephen Faukner e Josh Shwan. Eles não dão desculpas de golpes, regras e isso e aquilo para não lutar, eles se arriscaram nas competições para saber o que rola no cenário da luta profissional. Mais cedo ou mais tarde talvez uma escola consiga produzir um lutador de alto nível para este tipo de luta, mas seguindo a característica original do Wing Chun, muito difícil.
Fazendo uma comparação com o que vi na China, se for adaptar para competição de forma mais profissional, o MMA seria um ambiente melhor que um de K1 ou outra competição do gênero. O Wing Chun é forte nos chutes baixos e golpes de curta distância como cotovelos e joelhos, mas ao contrário do que se faz em outras escolas, o lutador de Wing Chun deve evitar a trocação gratuita, mas os caras acham que Wing Chun é só Chain Punch (Soco Corrente). Se o Wing Chun de nossa escola fosse misturado a uma boa luta de projeção como Judô e algum chão seriamos lutadores mais eficientes.
Blog do Dido -  Quais são os aspectos de maior relevância na escola do sifu Duncan leung?
SM - Só existe um Wing Chun que vem de Yip Man então não gosto de falar das características de nossa escola como algo “melhor” que qualquer outra. Então é o nosso jeito de fazer, e isso é apenas Wing Chun. Então vou me concentrar nas coisas que acho que são diferentes de outras escolas. O primeiro aspecto é a noção de “cobrir” ao invés de “bloquear”. No Wing Chun geralmente você espera o golpe vir e então pará-lo. Isso não funciona. E é por isso que a maior parte das defesas clássicas do próprio Shaolin Wushu não funcionam da maneira como você treina. Duncan ensina que ao sentir que vai ocorrer o ataque você deve cobrir a área com a defesa e entrar com seu contra-ataque firme, antes mesmo que o ataque ocorra. Isso faz uma diferença enorme na hora de colocar as defesas tradicionais em prática.
 O segundo aspecto é a força. As bases de nossa escola dividem o peso igualmente entre as pernas e usam o conceito de “forças em direções opostas” para aumentar a força dos golpes, ou potencializar a força da nossa defesa, porque vamos lutar com pessoas mais altas, fortes e rápidas que nós, o wing chun presupõe que haja algum tipo de vantagem por parte do oponente. Leigos em arte marcial acham que você deve recuar braços e pernas para lança-los com mais força, o que realmente é verdadeiro, mas isso telegrafa o golpe. Em Wing Chun, se queremos um golpe forte puxamos o braço ou perna detrás rapidamente e giramos o corpo. Isso gera força curta e explosiva. Em geral se diz que no Wing Chun não se usa força, mas isso não é verdadeiro, Yip Man nunca disse isso. Combinado ao uso de ângulos defensivos que colocam os membros do oponente sempre em contato com as extremidades de nosso corpo (joelhos, cotovelos), o oponente irá se machucar conosco tanto na defesa quanto no ataque. Por isso nossa escola é também chamada de a “Via do Primeiro Contato”.
 O último aspecto que posso mencionar são o uso combinado de chutes e socos na nossa estratégia para a luta. Ninguém nunca conseguirá usar o Wing Chun plenamente se não fizer isso de forma combinada. isso, segundo a tradição do estilo, equivale a usar o comportamento da serpente; se você a golpeia na cabeça, ela te dá com a cauda, e se você o faz na cauda, ela te golpeia com a cabeça. As pessoas pensam que pelo fato do Wing Chun ser um luta vinda do sul da China prioriza apenas os braços. Isso não é verdadeiro. O Wing Chun possui um número maior de ataques com as pernas que braços, mas poucos mestres tiveram acesso a este aspecto do treinamento, porque Yip Man detestava ensina-lo, o que geralmente fazia quatro anos após o discípulo concluir todo o sistema. Mas o grande mérito do Duncan entretanto é fazer os golpes tradicionais funcionarem na luta, coisa que 99% das escolas não fazem.
Blog do Dido - Em 2009 o sr. junto com outros mestres foram á china para um "curso" onde treinou diretamente com o sifu Duncan Leung.O sr. poderia nos contar alguma passagem marcante desta estadia na china e da convivência com este grande mestre?
SM - Nós tivemos sorte de chegar à China primeiro que os nossos colegas da Europa e USA, de forma que tivemos a chance de conversar ele muitas vezes antes do treinamento começar. Logo percebemos a vitalidade dele, que na época já estava com 68 anos de idade. Ele é polido no trato formal, mas firme e sarcástico. Não tem papas na língua. Falava sem rodeios sobre o que achava de Yip Man, seu mestre, e Bruce Lee, seu parceiro de lutas da juventude. Quando manifestamos o desejo de ir ao túmulo de Yip Man ele disse: “Nunca fui lá. Morreu, morreu.” Mas ele entendeu quando explicamos que Yip Man era para nós mais que uma pessoa, mas um ícone, então ele respeitou isso de mandou-nos para lá com um dos seus amigos mais próximos. Numa de nossas idas de carro de Guangzhou a Foshan, ele estava na direção quando um caminhão de transporte gigantesco quase nos esmagou. Todos nós desorientados depois da frenagem, o carro girou e ato contínuo, Duncan passa seu braço por meu rosto empunhando uma laterna de ataque. Ele jogou a luz fortíssima na cara do motorista do caminhão, que levantou os braços como se dissesse: “não atire”. Então Duncan começou a xingar o cara...em inglês!
Ele nos via no treinamento enquanto trabalhava numa grande mesa, sério e concentrado, de cabeça baixa. Parecia que ele estava alheio a tudo. Mas subitamente, se levantava andava pelo salão e apontava, um a um, nossos defeitos contra os lutadores de Muay Thai contratados para nos ajudar atacando realisticamente. Durante o almoço, nós que havíamos treinado três horas seguidas estávamos famintos. Não sobrava quase nada na mesa. Então, todos iam fazer uma sesta, e depois que todos dormiam, ele se levantava, e ia discretamente fazer seu prato. Isso foi algo que me marcou muito. Por fim, antes de irmos embora, ele foi a nossa casa e nos explicou toda a teoria do Wing Chun, com calma, deixando-nos anotar tudo. Que mais posso dizer? O cara não é só um mestre que pagou X de grana até chegar à faixa preta, ele realmente colocou o pescoço em perigo em lutas mortais para que tenhamos certeza que a técnica funciona por muito tempo ainda. Ele é grande como um Oyama, um Hélio Gracie, dentre outros grandes caras corajosos do passado, mas ele diz que não é “ninguém”. Por isso, treinar sob sua orientação e conviver com ele foi uma das maiores honras que tive em minha vida.
Blog do Dido - Por que o sr. escolheu o wing chun?
SM - Eu não tinha talento natural para fazer o judô ou karatê, minhas duas primeiras artes marciais. Eu tinha medo dos garotos mais fortes durante os combates no karatê especialmente (hoje me arrependo de ter abandonado). Sempre que tentava usar os bloqueios eu ficava com meus braços arranhados e sangrando. Eu então comecei a ler sobre Bruce Lee e um dia decidi que iria aprender Jeet Kune Do e Wing Chun. Você se empolga com o discurso, como todo mundo, então eu entrei naquela de querer virar ninja, o caminho fácil, que era o que o Wing Chun prometia (risos). Eu passei metade da minha vida tentando entender essa arte marcial, passando por cima das mentiras até encontrar minha verdade com a arte, o que só fiz recentemente. Foi uma longa jornada para chegar aonde cheguei, paguei um grande preço, pessoal e profissional, mas não me arrependo de nada.
Blog do Dido - O wing chun se diferencia de outros estilos de artes marciais,além de outras coisas,por ter conceitos bastantes subjetivos e particulares. Mas caso algum praticante de wing chun queria treinar outro estilo de luta,o que seria necessário para que este não venha a "meter os pés pelas mãos" e se perder no meio de tanta informação?
SM - Vou além. Digo, com todas as letras, que justamente pelo fato de o Wing Chun ser um estilo que funciona de forma diferente que o praticante é obrigado a praticar outros estilos, pelo menos para saber como estes funcionam na luta, e deixar seu treino mais realista. No Wing Chun, nada é pré-ajustado, você deve se moldar ao que chega a você. Os vexames que os lutadores de Wing Chun passam nas lutas esportivas vêm simples do fato de eles irem para elas sem saber com o que estão lidando. Se você só defende o soco do lutador de Wing Chun -que você só irá encontrar por aí se topar com um lutador de Aikido ou Krav Maga, convenhamos, lutas também defensivas - como você vai se virar contra um boxeador que vem jabeando maliciosamente? Ou contra um lutador de chão? Apenas não tente misturar o Wing Chun com outra coisa sem antes entende-lo com profundidade. Não dará certo. Se for treinar boxe, pense como boxeador até entender aquilo, e vice-versa.
Blog do Dido - Gostaria de agradecer pela honra de entrevistá-lo e gostaria que o sr. deixasse uma mensagem final para os leitores,bem como seus contatos para quem quiser conhecer melhor e se aprofundar no wing chun.
 SM - A mensagem que deixo é a conclusão tiro destes anos todos de treinamento: Se você realmente que algo para sua vida, e estiver disposto a pagar o preço por isto, arrisque, pois tudo vai colaborar para que você consiga chegar onde quer. As pessoas podem até falar mal de você ou não te respeitarem, mas ninguém tira o conhecimento de você, aquilo será seu pela eternidade. E você se torna o resultado de seu empenho, você se constrói como ser humano e artista marcial. Mas se você não arrisca, não vai a lugar algum. Então, para quem quer treinar Wing Chun e acha que não tem físico nem habilidades especiais, eu digo: esta arte marcial é para você, se você se dispuser a arriscar no treinamento, porque seguimos uma técnica. Você vai ganhar capacidade de defesa, com ela virá a confiança e sua auto-estima vai melhorar. Mas se quiser uma arte marcial só para conversar sobre história das artes marciais (não que isso também não seja legal) e filosofar sobre ser guerreiro, seu lugar não é conosco. Numa das conversas que Duncan teve com seus lutadores após o sparring, ele disse: “No dia em que virem que o medo não pode vence-los, não haverá limites para vocês”. Concordo com ele.
SiFu Marcos Abreu
Nona Geração Wing Chun Kuen Phai

Contatos:
E-mail:
wendellabreu@hotmail.com
sifu@kungfuwingchun.com.br


Web site:
www.facebook.com/brazilianwingchunacademy
Blog:
http://www.brazilianwingchun.blogspot.com
 
Blog:

Blog Dido - A very controversial issue concerns the lack of fighters wing chun in championships as cfu or mma. Mr.. attributes this "missing" for what? It would really need to be some representative of Wing Chun, whether national or international tournaments of this type?

SM - is only controversial because people do not know the art and how it works. If they did, this would not be a major concern. Originally the Wing Chun is a struggle to counterattack. The guy sits there with a guard who is almost a Buddhist monk in prayer and when it reacts scathingly attacked. It is very similar to what we call today - not much like the term - self-defense. Then, the punch, the blows, everything is geared toward a different kind of combat environment of competition where the fight is a show aggression he needed two guys going up each other. The unrestricted combat environment, it uses the same defense Wing Chun to disarm a club face, to defend a cross punch or a kick. The movements are ambivalent and are adjusted according to the heat of the moment. This makes it difficult for a level of expertise to a competition of specific struggles to ring at a high level.
When I was in China, I went through a training which aimed to adapt to the wrestling ring. Sigung Duncan Leung (Li Hon Ki master) does this since the seventies. Today, many fighters of our school enter the competitions, but they do pretty much on their own, because everyone is convinced that Wing Chun is for what they call in English "real fights" and I had the good fortune to meet experts people this kind of fight, as the Duncan, and two of his leading disciples, Stephen Faukner and Josh Shawn. They do not make excuses scams, rules and this and that to not fight, they have ventured in competitions to know what goes into the professional fight scene. Sooner or later perhaps a school can produce a high-level fighter for this kind of fight, but following the unique feature of Wing Chun, very difficult.
Making a comparison with what I saw in China, if adapt to more professionally competition, the MMA would be a better environment than a K1 or other competition of its kind. The Wing Chun is strong in low kicks and punches short as elbows and knees, but contrary to what is done in other schools, the Wing Chun fighter must avoid striking free, but the guys think that Wing Chun is just Chain Punch (Punch Current). If the Wing Chun our school was mixed with a good projection struggle as Judo and some ground it would be more efficient fighters.

Blog Dido - What are the aspects of greatest relevance in school of Si Fu  Duncan Leung?

SM - There is only one coming from Wing Chun Yip Man then i do not like to talk about the characteristics of our school as something "better" than any other. So is the way we do, and that's just Wing Chun. Then I will focus on things that I think are different from other schools. The first aspect is the notion of "cover" instead of "block". In Wing Chun generally you expect the blow coming and then stop it. It does not work. And that's why most of the classic defense of the Shaolin Wushu own do not work the way you train. Duncan teaches that when you felt the attack to take place you should cover the area with the defense and enter its strong counter-attack before the attack occurs. It makes a huge difference in the time to put into practice the traditional defenses.
 The second aspect is the strength. Our school bases divide the weight evenly between your legs and use the concept of "forces in opposite directions" to increase the force of the blows, or leverage the strength of our defense, because we are going to fight taller people, strong and fast that us, the wing chun presupposes that there is some sort of advantage from the opponent. Lay in martial arts think you should back off arms and legs to spear them harder, which really is true, but it telegraphs the coup. In Wing Chun, if we want a strong blow pull the arm or leg behind quickly and spin the body. This creates short, explosive force. Generally it is said that the Wing Chun uses if not force, but this is not true, Yip Man never said that. Combined with the use of defensive angles that put members of the opponent always in contact with the ends of your body (knees, elbows), the opponent will be hurt us both in defense and in attack. So our school is also called the "Way of first contact."
 The last thing I can mention is the combined use of kicks and punches in our strategy for the fight. No one will ever use the Wing Chun fully if we do this in combination. Therefore, according to the style of tradition, equivalent to using the snake behavior; if you strike the head, it gives you with his tail, and if you do it in the tail, she strikes you with his head. People think that because of Wing Chun is a coming fight in southern China prioritizes only the arms. This is not true. The Wing Chun has a greater number of attacks with the legs arms, but few teachers have had access to this aspect of training because Yip Man hated teaches it, which usually was four years after the student complete the whole system. But the great merit of Duncan however is to the traditional scams operate in the fight, something that 99% of schools do not.

Blog Dido - In 2009 Mr. along with other teachers went to China for a "course" where he trained directly with the sifu Duncan Leung. Can you tell us some striking passage of this stay in China and coexistence with this great master?

SM - We were lucky to get the first China that our colleagues from Europe and USA, so we had a chance to talk him many times before training begins. We soon realized the vitality of him, which at that time was already 68 years old. It is polished in formal treatment, but firm and sarcastic. Has not mince words. Outspoken about what he thought of Yip Man, his teacher, and Bruce Lee, his youth struggles partner. When we express the desire to go to the tomb of Yip Man he said: "I've never been there. Died, he died. "But he understood when we explained that Yip Man was for us more than one person, but an icon, then he respected it sent us there with one of his closest friends. In one of our Guangzhou car trips to Foshan, I was on the board when a giant transport truck almost crushed us. We all disoriented after braking, the car spun and continuous act, Duncan spends his arm around my face wielding a flashlight attack. He played a very strong light on the truck driver's face, he raised his arms as if to say "do not shoot". Duncan then began to curse the guy ... in English!
He saw us in training while working at a large table, serious and focused, his head bowed. It seemed he was oblivious to everything. But suddenly got up and walked around the room pointing one by one, our defects against Muay Thai fighters hired to help in attacking realistically. During lunch, we had trained three straight hours we were hungry. There was not hardly anything on the table. So all went to take a nap, and after everyone was asleep, he got up, and went quietly to his plate. This was something that impressed me a lot. Finally, before we left, it was our home and explained the whole theory of Wing Chun, calmly, letting us write everything down. What more can I say? The guy is not only a teacher who paid money to X until you reach the black belt, he really put his neck in danger deadly fights to be certain that the technique works for a long time. It is great as a Oyama, one Hélio Gracie, among other big bold faces from the past, but he says he is not "anyone". So train under him and live with him was one of the greatest honors I've had in my life.

Blog Dido - Why did you chose the wing chun?

SM - I had no natural talent for judo or karate, my first two martial arts. I was afraid of the strongest boys during the fighting in karate especially (now regret having abandoned). Whenever he tried to use the locks I was with my arms scratched and bleeding. I then started reading about Bruce Lee and one day I decided I would learn Jeet Kune Do and Wing Chun. You excited about the speech, like everyone else, so I walked into that of wanting to turn ninja, the easy way, which was what the Wing Chun promised (laughs). I spent half my life trying to understand this martial art, going over the lies to find my true with art, which just did recently. It was a long journey to get where I am, I paid a great price, personal and professional, but I do not regret anything.

Blog Dido - The Wing Chun is different from other styles of martial arts, among other things, to have enough subjective and particular concepts. But if any practitioner of Wing Chun wanted to train other fighting style, which would be required for this will not "put his foot in it" and get lost in the midst of so much information?

SM - I beyond. I say, in so many words that just because the Wing Chun is a style that works differently than the practitioner is required to practice other styles, at least to know how they work in the fight, and let your more realistic training. In Wing Chun, nothing is preset, you should shape what comes to you. The humiliation that fighters of Wing Chun go in sports fights come simply from the fact they go for them without knowing what they are dealing with. If you only defends the punch of Wing Chun fighter -which you will only find out there is run into a fighter Aikido or Krav Maga's face it, also defensive struggles - as you will turn against a boxer who comes jabeando maliciously? Or against a ground fighter? Just do not try to mix the Wing Chun with something else without first understand it in depth. It will not work. If practice boxing, think like a boxer to understand that, and vice versa.

Blog Dido - I would like to thank you for the honor to interview you and wish Mr. leave a final message for the readers as well as your contacts to whom you want to know better and to deepen their wing chun.

 SM - The message I leave is the conclusion shooting all these years of training: If you really want something to your life, and are willing to pay the price for it, deal, because everything will collaborate so that you can get where you want. People may speak ill of you or do not respect you, but no one takes the knowledge of you, that will be his for eternity. And you become the result of their commitment, you build as a human being and martial artist. But if you do not risk, not going anywhere. So for those who want to train Wing Chun and think you do not have physical or special skills, I say, this martial art is for you if you are willing to risk in training, because we follow a technique. You will gain defense capability, with it will come the confidence and self-esteem will improve. But if you want a martial art just to talk about martial arts history (not that this also is not legal) and philosophize about being a warrior, your place is with us. In one of the conversations that Duncan had with their fighters after the sparring, he said: "The day I see that fear can not beat them, there will be limits to you." I agree with him.

SiFu Marcos Abreu
Ninth Generation Wing Chun Kuen Phai

Contacts:
E-mail:
wendellabreu@hotmail.com
sifu@kungfuwingchun.com.br

Web site:
www.facebook.com/brazilianwingchunacademy
Blog:
http://www.brazilianwingchun.blogspot.com

terça-feira, 7 de maio de 2019

Single Hand Chi Sau - Tang ( Dan) Chi Sau

Este é um exercício muito básico e muito elementar do sistema Wing Chun. Não há nenhum outro similar em outros estilos de artes marciais. Chi Sau - ou braços aderentes, ou Sticking Hands - já foi e é assunto de vários tópicos, mas aproveitando a oportunidade de relembrar ao amigo leitor sobre este aspecto, hoje falaremos do Chi Sau em sua forma mais importante e mais subestimada pelos praticantes do sistema; Dan Chi Sau.


Dan Chi Sau ( Doan Chi Sau, Tan Chi Sau, Tang Chi Sau, etc..) é o mais básico exercício de mãos vazias praticadas á dois do sistema Wing Chun. Prioritariamente, este exercício só terá aproveitamento de sua finalidade se praticado com outra pessoa, já que depende basicamente do contato com o parceiro de treino. Não se pratica Chi Sau sozinho, caso contrário, seria algo como ''falar sozinho'' para treinar a pronúncia, mas isso ,normalmente ninguém faz...


Tang Chi Sao tem uma relação muito próxima com a primeira parte da forma Siu Lin Tao. Quando executamos a forma e damos início á sequência de Saam Pai Fut (três reverências á buda, usando um termo geral) onde os movimentos são; Tan Sao, Hueng Sao, Wu Sao, Jut Sao e Fook Sao, de forma tensa e extremamente lenta, estamos exercitando a criação de uma memória neuro-muscular que vai ajudar á memorizar um bom posicionamento dos ângulos dos elementos técnicos justamente pro Tang Chi Sao.



Resultado de imagem para dido wing chun siu nim tao
(Francisco e eu durante a prática da forma Siu Lin Tau)


Dentro do contexto proposto por esse exercício, um outro aspecto fundamental é o seu critério para buscar um melhor posicionamento, garantindo uma postura tanto ofensiva, quanto defensiva, cobrindo seus melhores ângulos, aprendendo a 'ler' de forma instintiva a intenção do parceiro de treino por meio do contato com os braços.


Muitos praticantes se esquecem da importância desta forma de exercício. Visualmente falando, um Chi Sau com duas mãos é mais interessante mesmo de se ver e praticar até. Porém, é na base que uma casa se sustenta e não no teto. A base do Chi Sau de duas mãos é o Chi Sau simples. Em nossa escola, definimos esse exercício como Tang Chi Sau ou ''Single Hand Chi Sau.''


SiFu sempre me disse que quanto melhor você for naquilo de mais básico, melhor será quando alcançar um nível avançado. O efeito contrário é verdadeiro, caso você negligencie o básico do seu estilo.

Tang Chi Sao e seung chi sao como já escritos por sifu em uma de suas ótimas matérias (http://appliedwingchunsalvador.blogspot.com.br/2011/07/chi-sao-nao-te-prepara-para-luta.html) é um exercício mental interessante,mas que de fato, não deixa ninguém bom em combate... Embora ensine uma das coisas mais importantes dentro da jogo da luta que é o princípio de "cobrir", á como você deve perceber alguma abertura em sua guarda e a como cobri-la, antes que o adversário á perceba, impedindo sua ofensiva antes mesmo que ela ocorra. È importante também lembrar que se trata apenas de um exercício que atende finalidades específicas e que sem entender conceitos como fook sao, kwan sao,jut sao, etc., fica difícil compreender seu treinamento por completo.

Workout Básico:



(Tenha em mente que antes de tudo; Chi Sau é um exercício. Ponto.A noção á ser desenvolvida aqui não é a de vencer o oponente, muito menos de bater o tempo todo no oponente. Sigung Li Hon Ki e SitaaiGung Duncan diziam que para aprender a bater, você não precisa de artes marciais. Mas o propósito de aprender artes marciais era o de ''não apanhar'' de ninguém. Sendo assim, muitos desafios de Chi sau que vemos hoje na internet soam duplamente sem sentido. Duplamente porque um; Ao ter a ideia de ''vencer alguém'' no Chi Sau, o propósito do ''porque fazer'', já se perde. Dois, uma vez que eu entro numa disputa com alguém numa troca de golpes desconexa e sem sentido nenhum, não se desenvolve os atributos necessários e visados para esta prática,já que boa parte das premissas básicas deste exercício são postas de lado. O lutador de Wing Chun,por premissa, não deve trocar golpes á esmo com seu oponente, mas busca lutar por estratégia. Sendo assim, por experiência própria, posso garantir que é muito mais benéfico praticar algum Chi Sau com alguém que sabe mais do que você, do que o contrário. E não, não se decepcione ao ser atingido várias e várias vezes, quando acontecer - repare que eu não disse ''Se'',mas ''Quando'' - já que ser atingido, significa que no próximo movimento, aquele erro que permitiu que o golpe passasse, não mais ocorrerá. Chi Sau é apenas um exercício, nada mais.Não tenha sentimentos de romantizar a prática nesse sentido.)
 
Se algum lutador de outra modalidade te desafia ou quer fazer alguma luta com você, você,por ser praticante de Wing Chun, o chamaria para fazer Chi Sau? Obviamente que não, já que o pretenso oponente, em tese, não sabe o que é Chi Sau.
 
Chi Sau visa te dar uma melhor percepção, de si mesmo, em termos de posicionamento corporal, sentido de controle e equilíbrio,  melhores reflexos, sentimentos de contato e melhores percepções sobre as intenções, posicionamentos e energia ( leia-se esforço direcionado) do oponente em relação á você. Trabalhar a noção de Kum Wai ( Cobrir espaços) ao invés de bloquear, ou seja, manter-se seguro antes mesmo que um ataque possa vir e agir assertivamente, antecipando o movimento, ao invés de bloquear ( ver, identificar e seguir atrasadamente o movimento do oponente) é uma das premissas do Chi Sau. No entanto, erroneamente, muitos instrutores trabalham isto como um match,onde quem bate mais, tem mais ''pontos''. Ser bom em Chi Sau não significa ser bom de luta. Uma coisa, aliás, nada tem a ver com a outra.
 
 
O exercício mais simples consiste no Single Hand, ou única mão. Para isto, vamos observar que nosso posicionamento deve estar em Yee jii Kim Yeung Mah ( base que amarra os dois dedos como o carneiro), de frente para o oponente....
 


(Antônio e eu durante Single Hand Chi Sau)

Na foto 01, aqui eu estou em Tan Sau, pela porta de dentro (Noi moon) enquanto meu estudante iniciante Antônio está em Fook Sau em Oi moon ( porta de fora). Para o Tan Sau: Meu cotovelo deve estar baixo, ajudando meu pulso a fazer uma ''pressão '' para frente enquanto aponto para o queixo ou para o nariz de Antônio. Por outro lado, Antônio usa a lateral do pulso e da mão para manter o controle do meu Tan Sau, tendo ai o máximo de contato e com seu cotovelo dando suporte para não permitir meu avanço. Desta maneira, nós ''travamos'' o avanço um do outro enquanto levemente exercemos pressão para frente em oposição um ao outro ( Chung Chi / Doy Yen). A única maneira que eu tenho para prosseguir com um ataque, seria virar a minha mão, mostrando a palma e seguindo para frente....






....Desta maneira, ataco com Ding Jeang - na Foto 02 - (palma em linha reta, ou direta,ou frontal). Antônio, que continua mantendo o controle do meu movimento, usa o seu cotovelo como suporte para ''puxar'' meu ataque para si, dispersando a força do meu movimento ao utilizar Jat Sau ( Jum Sau). Como ele ainda está em inicio de treinamento, o critério de posicionamento do cotovelo ainda tende a puxar demais para baixo, como se nota na foto,o que me permitiria dar a volta por fora e acertá-lo com um soco,em uma variação deste exercício. Porém a ideia é  que mesmo que eu continue meu avanço, ele possa manter o controle e seguir no tempo certo. Se ele agisse somente depois que meu braço já tivesse completado o golpe, não adiantaria nada. Se muito antes, também não faria diferença. O ''sentir''' o momento certo para agir vem do estimulo neurológico, do ''disparo'', para atuar no exato instante. Sendo assim, ao utilizar Jat Sau, uma área exposta foi criada. A única maneira de Antônio agora prosseguir com um ataque é aproveitar esta abertura criada para contra-atacar....Eu, de minha feita, não sei como ele me atacará; Tudo o que eu sei é que agora, há uma área exposta e ele pode me acertar na boca do estômago, plexo, pescoço, queixo, nariz....Então ao perceber isso, eu me antecipo ao seu próximo movimento e cubro a área com Bong Sau, sem perder o contato com seu braço, indo em linha reta e quebrando um pouco a resistência de seu golpe, mas tudo isso antes que seu ataque ocorra....


 


..Porém, a forma como Antônio me ataca tem uma função muito importante; Manter-se seguro e coberto ao não perder o contato com meu braço e usar o cotovelo de maneira alinhada para não criar uma brecha durante o movimento de avanço enquanto o ataque continua. Se ele socasse, logo após Jat Sau, levantando seu cotovelo,ou com ,digamos, um soco semi-cruzado, eu o acertaria pois o cotovelo perderia a função de controle e me daria a brecha necessária para passar por baixo do braço dele.
Note que o braço dele não está esticado. Isto acontece porque o meu Bong Sau ( Foto 03) tem a função de ''interceptar'' ( Jamming forward) antes da saída do soco. Se ele tiver espaço para esticar minimamente o braço, logo após o meu ataque de palma direta ( Ding Jeang), com facilidade ele me acertaria e o meu Bong Sau seria inútil.

Em algumas transliterações, Bong Sau e suas variantes podem ser interpretadas como ''amarrar alguma coisa''. Então, antes que eu veja o ataque, e antes mesmo que ele possa acontecer, por já saber previamente que meu ataque de palma direta, fez com que uma abertura fosse criada, eu sigo - sem perder o contato com o braço do Antônio - para Bong Sau intentando para frente. Em muitas escolas, Bong Sau é feito para cima, na intenção de redirecionar o braço do parceiro e treino. Se feito desta maneira, dificilmente o soco ( Yat Ji Jung Choy) será defendido e levando em conta que o parceiro de treino pode ser mais forte que você ( E esta é uma premissa básica do estilo), você não será capaz de redirecionar o braço dele para cima. Daí, Bong Sau deve seguir para frente, antes que o soco saia por completo. 

Se em uma situação onde ao invés de eu seguir para Bong Sau, resolvesse atacar com outro soco, o cotovelo do Antônio , se corretamente alinhado, pararia meu ataque e me travaria. Da mesma maneira, eu uso meu cotovelo antes que ele siga para frente em linha reta e mantendo o controle, impeço que outra abertura se crie, cobrindo o espaço antes mesmo que aconteça. Esta noção de cobrir ( Kum Wai) é um dos motes principais na prática do Chi Sau.


Ao retornar a posição inicial, devemos ter bastante cuidado em manter o contato com o oponente e ''controlar'' o movimento gradualmente para não sermos atingidos durante o retorno das mãos para Tan Sau / Fook Sau, ou numa posição ''hibrida''. A ideia não é bater o tempo todo, mas não ser atingido. Cobrir espaços através do critério de posicionamento para não dar a brecha necessária para o oponente prosseguir com seu ataque ao passo em que estamos melhor posicionados para continuar avançando. Chi Sau ajuda a melhorar seu próprio timing, sentimento de contato - o feeling - e melhora os reflexos para agir no tempo certo, assertivamente - em termos de posicionamento -  e controle. Além de outros atributos, obviamente.

Além do mais, existem maneiras de prosseguir com o exercício para os dois lados sem perder totalmente o contato com o parceiro de treino, trabalhando a mudança de portas e variações de coberturas á partir do Fook Sau e com variações de ataques após uma ofensiva partindo do Tan Sau, o que deixaria a matéria por demais extensa. Como esses movimentos apresentados são mais comuns em várias ramificações do estilo, vamos dar ênfase á elas, apenas por conta da fácil identificação.
 
 
 Até a próxima.




      Dido
      Discípulo particular do SiFu Marcos de Abreu
      Brazilian Wing Chun Academy
      Dido
      Private disciple of SiFu Marcos de Abreu
     Brazilian Wing Chun Academy

quarta-feira, 1 de maio de 2019

SiFu Marcos explica 6 passos para se praticar Pak Sau

1. Primeiro você tem a forma Sil Lin Tao onde a técnica é vista como uma simples ideia: preparação para o Pak Sao 
---------------------------------------
1. First you have the Sil Lin Tao form in which the technique is seen as a simple idea: preparation for Pak Sao




1. 1. Pak Sao (Tapa, Mão que esbofeteia)
-----------------------------------
1.1. Pak Sao (Slapping Hand)



1.2. Yat Ji Jung Choi 
----------------------------------
1.2. Yat Ji Jung Cho



2. Palma de Ferro. Em nossa escola temos três formas diferentes de execução dessa técnica
---------------------------------------
2. Iron Palm. In our school we have three different ways of performing this technique



3. Sam Gowck Mah. Trabalho de pernas
---------------------------------
3. Sam Gowck Mah. Footwork.







4. Como se os estudantes tivessem dificuldade de posicionar suas mãos simultaneamente, foram utilizados bastões duplos para mimetizar a origem militar do movimentos
--------------------------------
4. As the students had difficulty positioning their hands simultaneously, double sticks were used to mimic the military origin of the movements



5. Sparring suave em três fotos: 1...Dê o fora!
----------------------------
5. Light sparring in three shots:1...Getway!



5.1: 2....Pak Sao!



5.2: ......Hasta la vista, baby!



6. SiFu Marcos faz ataques reais e você tem de acertar um alvo em movimento para ter foco e precisão.
----------------------------------
6. Sifu Marcos makes real attacks and you have to hit a moving target to get focus and precision









      Dido
      Discípulo particular do SiFu Marcos de Abreu
      Brazilian Wing Chun Academy
      Dido
      Private disciple of SiFu Marcos de Abreu
     Brazilian Wing Chun Academy